segunda-feira, 12 de abril de 2010

Brincar e aprender

Piaget e Vygotsky: Contribuições ao estudo do brincar
O lugar ocupado pelo brincar na dinâmica escolar fica restrito, muitas vezes, ao horário do recreio. Talvez este seja o único momento em que a brincadeira infantil seja vista como uma atividade. Mas, na verdade, ela é muito mais que isso: desenvolve a criatividade, permite a vivência para a aprendizagem, é uma atividade mediadora da criança com o mundo em que vive e é capaz de colocar em movimento vários processos do desenvolvimento infantil.

Vamos nos ater, mais especificamente, ao processo de a
prendizagem e nos referir, inicialmente, aos estudos de Jean Piaget. O teórico, que se dedicou ao estudo do desenvolvimento cognitivo das crianças, menciona dois conceitos básicos na construção do pensamento infantil, principalmente no que condiz à adaptação da criança a sua realidade: a assimilação e a acomodação. De acordo com o autor, a assimilação é o processo de incorporação de novas experiências ou informações que chegam à criança. Já a acomodação é o processo de modificação de suas idéias ou estratégias em função de uma nova experiência.

No decorrer da assimilação e da acomodação, q
ue ocorrem concomitantemente, podemos considerar a atividade lúdica como uma ferramenta integradora no desenvolvimento do conhecimento, que permite que a criança expresse e compreenda o mundo - no qual ela terá de se inserir e, possivelmente, o qual terá que transformar - que se apresenta a ela. Assim, podemos considerar que o brincar é uma forma importante de intervenção no campo da saúde mental, contribuindo de maneira significativa para o desenvolvimento da cognição, da linguagem, da área motora e da área social da criança.

Outro autor que também se dedicou ao estudo e à pesquisa das relações entre o desenvolvimento e a aprendizagem foi Vygotsky. O psicólogo russo atribuiu enorme importância ao papel da interação social no desenvolvimento do ser humano. Uma das contribuições mais significativas das teses que formulou está na tentativa de explicitar como o processo de desenvolvimento é socialmente construído. Essa é a principal razão de seu interesse no estudo da infância e da atividade lúdica expressa pelas crianças.

Para Vygotsky, o brinquedo é uma importante fonte de promoção do desenvolvimento. O termo "brinquedo" se refere à atividade, ao ato de brincar, mais especificamente ao jogo de papéis ou à brincadeira de "faz-de-conta", isto porque já temos a atuação do simbólico, do processo de abstração das idéias.

De acordo com o autor, com o brinquedo a criança aprende a atuar numa esfera cognitiva que depende de motivações internas. Nessa fase (idade pré-escolar) ocorre uma diferenciação entre os campos de significado e de visão. O pensamento, que antes era determinado pelos objetos do exterior, passa a ser regido pelas idéias. A criança brinca pela necessidade de agir em relação ao mundo mais amplo dos adultos e não apenas ao universo dos objetos a que ela tem acesso. Pelo brinquedo, a criança projeta-se nas atividades dos adultos e procura ser c
oerente com os papéis assumidos.
Anriet Barros de Siqueira e Mira Carla Prado de Noronha**Anriet Barros de Siqueira e Mira Carla Prado de Noronha são psicólogas e coordenadoras do PROCAE

Profª Tânia Fortuna, afirma que " brincar não é brincadeira, é sério".

Em defesa da imaginação


Donald Winnicott, médico pediatra picanalista inglês enfatizou a importância do brincar e de criar para acriança.
O acolhimento adequado pode, portanto, ajudar uma criança regida por um self falso - geralmente boazinha e obediente - a se tornar mais espontânea. "No entanto, é preciso que a escola aceite as temporadas de 'mau comportamento'." Trata-se de adotar sempre uma postura tolerante e criar condições para que a criança desfrute de liberdade. Nada mais importante, nesse sentido, do que o papel da brincadeira - fundamental para Winnicott, não apenas na infância, por misturar e conciliar o manejo do mundo objetivo e a imaginação. "Brincar pressupõe segurança e criatividade", diz Winnicott. "Crianças com problemas emocionais graves não brincam, pois não conseguem ser criativas."
A escola tem a obrigação de ajudar a criança a completar essa transição do modo mais agradável possível, respeitando o direito de devanear, imaginar, brincar", prossegue o psicanalista. O respeito que os pequenos terão pela objetividade será incorporado por eles, jamais imposto de fora para dentro. Quando livres para criar, eles, segundo Winnicott, vêem no estudo um modo de exercitar o poder de invenção. Se, no entanto, o ambiente escolar não for aberto à brincadeira, "os recreios serão tanto mais selvagens quanto as aulas forem mais opressoras ou supostamente sérias". Pensadores-Revista Nova Escola - dez/2008

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